Padre Samuel Fidelis

Padre Samuel Fidelis é colunista da Itatiaia

Padre Samuel Fidelis | Itatiaia

A oração é o respiro da alma. Essa é uma das frases apócrifas da espiritualidade. Basta dar uma “googlada” e verá que pode ser atribuída a Chiara Lubich, Papa Francisco, Gandhi. Seja cristão ou não, “orar custuma fazer bem” (Pe. Zezinho). Isso porque orar dá coração humano leveza, quietude, conduz ao alto.

A oração requer interioridade, abertura, pausa. Num tempo de tantas urgências, a oração situa o que é mais importante. Num mundo em que o ímpeto de “felicidade” nos faz dependentes, inseguro e escravos, orar nos liberta. Na ilusão de que é preciso estar rendendo, fazendo algo o tempo todo, orar nos autoriza a sermos simples, a não termos que fazer nada, a sermos um pouco inúteis.

Na Tradição das Escrituras, a oração está fortemente presente. O seu conteúdo? O sorriso, o suor, a lágrima. Na Bíblia, reza-se para agradecer. Diante da beleza, do sagrado que nos visita na natureza, vemos o carinho divino (Sl 8). Quando nos vem a sensação de um trabalho sem sentido, a oração é pedir que nossa presença nesse mundo não seja estéril, que, com o olhar divino, percebamos melhor as riquezas em nosso dia (Sl 89). Se a vida estiver difícil, a oração ajuda a não amaldiçoar o destino, mas a perceber que lágrimas tendem a ser sementes fecundas, para quem age com sabedoria (Sl 125).

A regra da oração é que ela precisa ser sincera. Ninguém gosta de estar com uma pessoa que não lhe olha nos olhos. É horrível estar conversando com alguém distraído, que não está inteiro. A oração pressupõe presença plena e sem reservas.

A gente tende a sofrer querendo caber no olhar do outro. Lutamos continuamente para nos encaixar nesse ideal de “eu” que reside na lente da câmera, cuja foto, com muito filtro, vai para o Instagram. A oração, em sentido diverso, não precisa de filtro, não admite filtro. Deus ama os corações que são sem filtro, sine cera, sinceros (Sl 50,8).

A oração é tanto mais autêntica quanto mais desajustada. Ana ora, morrendo de ódio de Fenena (1 Sm 1). Jeremias ora com raiva de Deus, acusando-o de tê-lo enganado, aproveitando-se de sua inexperiência, como uma moça é seduzida por um homem (Jr 20,7). Habacuque questiona o Senhor porque ele tem mania de ver as coisas e não fazer nada (Hab 1,3). O publicano oferece a Deus, em oração, aquilo de que dispunha: seus pecados. E, com isso, volta para casa justificado (Lc 18,9-17). Jesus reza a seu Pai lhe questionando sobre o porquê de seu abandono (Mt 27,46).

Oramos não para que se faça o que queremos, mas confiando que tudo ficará bem. Oramos não para barganhar com Deus, com muitas palavras, mas para que o amor divino nos explique tudo. Oramos porque há coisas que escapam à nossa razão, ao nosso cálculo, ao nosso entendimento…

E como rezar? Bom. Quando questionado por seu discípulos sobre como é que se reza, Jesus lhes pede para dizer “abbá”, ou seja, “paizinho”, em hebraico (Lc 11, 2). Ele ensina, com isso que a oração é experiência de amor, confiança no colo que todos os desamparos ordena, é proximidade.

Lendo os salmos, e por experiência própria, ao perceber que do “coração atribulado está próximo o Senhor e conforta os de espírito abatido” Sl 34,19, estou convicto de que a distância mais curta para o céu é um alma atribulada. Delas o Senhor mais está perto…

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