Golpistas têm acesso a processos e documentos pessoais dos servidores e, com isso, enganam as vítimas e desviam dinheiro de contas bancárias

PBH.

A formatura dos participantes aconteceu na sede da prefeitura de BH, no Centro da cidade.

Rodrigo Clemente | PBH.

Uma onda sofisticada de golpes tem gerado prejuízos aos servidores municipais de Belo Horizonte e fez uma das vítimas perder R$ 105 mil. No esquema, golpistas fingem ser advogados e assessores jurídicos da Associação dos Servidores Municipais da PBH (Assemp) para enganar e retirar os valores das contas bancárias de servidores.

Segundo Daniele Santos, gestora jurídica da Assemp, até o momento a instituição acompanha cerca de mil servidores que caíram na emboscada digital.

O golpe geralmente segue seguinte roteiro: os criminosos afirmam que há um valor a ser liberado, como um precatório ou alvará judicial, mas que é necessário antecipar o pagamento de uma suposta guia ou despesa judicial para liberar os fundos. Em outros casos, induzem o servidor a clicar em links maliciosos sob a justificativa de validação bancária, permitindo o acesso remoto aos dispositivos e o vazamento de contas bancárias. Só que os criminosos têm acesso a dados pessoais e informações sobre os processos que são verdadeiros. Por isso, a aparência legítima do contato e o uso de dados reais geram confiança, o que faz com que as vítimas caiam no golpe.

Quase R$10 mil de prejuízo

Foi o que aconteceu com o aposentado José Cândido Ribeiro, que perdeu R$ 9,6 mil depois que uma pessoa que se passava por advogada da Assemp o contatou. Na conversa, ela disse que havia um depósito relacionado a uma ação que ele havia movido contra a prefeitura. “Essa suposta advogada me passou uma mensagem dizendo que eu deveria entrar em contato com ela. Tentei ligar, mas não adiantou e, depois, ela só me retornou por mensagem”, conta.

O criminoso mandou uma cópia do processo de José Cândido e informou que um funcionário do banco que ele utiliza iria entrar em contato para desbloquear o dinheiro. “Alguns minutos depois, um dos bandidos entrou em contato comigo e me deu instruções para abrir o aplicativo e foi me guiando nas abas. Quando ele disse que o processo foi concluído, vi que, na verdade, ao invés do depósito, houve um débito na minha conta”, relembra o aposentado.

José Cândido disse que no momento que perguntou o nome da pessoa que estava conversando com ele no telefone a ligação caiu.

Dados vazados

Itatiaia questionou a Assemp se houve algum vazamento de dados dos associados, o que foi negado por Daniele Santos, gestora jurídica da Assemp. Ela afirma que a associação possui um programa “muito efetivo” de proteção e privacidade de dados, com monitoramento constante e ações preventivas, que estão de acordo com as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

“O mapeamento do passo a passo dos golpes nos leva à certeza de que os dados têm sido vazados pelo acesso de terceiros não habilitados nos processos judiciais da Assemp disponíveis nas plataformas judiciais”, esclarece a advogada. Ou seja, os golpistas têm acesso aos dados dos processos que estão em plataformas públicas de Tribunais e outros órgãos, o que já seria suficiente para enganar os servidores.

Busca por justiça

Ao tomar conhecimento dos golpes, a Assemp fez uma representação junto ao Ministério Público em junho de 2023, explica Danielle. No documento, foi noticiada a fraude eletrônica e foi feita a solicitação de uma investigação.

A associação também relatou os fatos ao Tribunal de Justiça (TJMG) e pediu que o órgão tome providências sobre o assunto. Além disso, Daniele explica que a equipe jurídica da Assemp tem fornecido orientação às vítimas e, se necessário, dado apoio em ações judiciais para buscar a reparação dos danos materiais e morais.

A Polícia Civil de Minas Gerais informou um inquérito policial foi instaurado para investigar os fatos. Além disso, a corporação informou que diligências têm sido feitas visando a completa elucidação dos fatos.

Cuidados para não cair no golpe

O alerta principal da Assemp para os servidores é: Desconfie sempre!

Recomendação da Polícia Civil de Minas Gerais

A PCMG orienta que todo cidadão lesado registre o fato em uma unidade policial mais próxima à residência ou, ainda, pela Delegacia Virtual por meio do link: https://delegaciavirtual.sids.mg.gov.br/sxgn/.

Além disso, a PC reforça que o crime de estelionato é de ação penal pública condicionada à representação da vítima, o que significa dizer que, para a instauração de inquérito policial, é necessário fazer representação criminal no momento do registro da ocorrência.

Ao contratar o profissional, é recomendável acessar o site da OAB para verificar o cadastro do advogado junto à instituição.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *