As ondas de calor são resultados do fenômeno El Niño, que causa o aquecimento das águas do Oceano Pacífico e impacta todo o mundo

Nesta segunda-feira (25), Belo Horizonte registrou o recorde histórico de calor desde o início das medições da temperatura da capital pelo Instituto Nacional de Meteorologia, em 1961. Quando se analisa os 10 últimos recordes de temperatura, todos foram registrados desde 2015. O Brasil sofre, este ano, com uma onda de calor junto com outros países da América do Sul, poucos meses após a Europa e Estados Unidos registrarem recordes de temperatura.
Segundo o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Wellington Lopes Assis, especialista em climatologia, as ondas de calor são resultados do fenômeno El Niño, que causa o aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico na faixa equatorial e tropical. Por causa disso, as temperaturas acabam ficando mais elevadas do que o normal em todo o mundo.
“Anomalias térmicas, ou pluviométricas, são normais e recorrentes. Por exemplo, no ano passado tivemos recordes de temperaturas baixas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. No dia 19/05/2022 Belo Horizonte registrou a mínima de 4,4°C e Gama, localizado no Distrito Federal, 1,6°C”, explica o professor.
Recorde tem relação com o aquecimento global?
Segundo o especialista em climatologia, Wellington Lopes Assis, não existe certeza se as altas temperaturas registradas esse ano têm relação direta com o aquecimento global. Isso porque, segundo o professor, é frequente ocorrerem extremos de chuva e temperatura de tempos em tempos.
Ainda assim, Wellington afirma que o mundo vem registrando aumento na temperatura média nas últimas décadas. Uma das principais causas, segundo ele, seria um processo de urbanização intensa que vem destruindo a vegetação e impedindo que a água penetre o solo, devido ao concreto e asfalto.
“É sabido que ondas de calor, chuvas intensas, tempestades severas, furacões e outros eventos meteorológicos extremos sempre ocorreram ao longo da história de nosso planeta. A sociedade como um todo tem se preparar para estes eventos, não podemos esperar que eles ocorram para depois tomarmos atitudes. Neste caso, as políticas públicas de prevenção são essenciais”.
Entre as principais políticas públicas citadas pelo professor está um planejamento urbano que seja capaz de melhorar o conforto ambiental e térmico, além de diminuir as emissões de poluentes, economizar energia e reduzir os impactos causados pela construção das edificações.
“Outro ponto relevante é o tamanho do tecido urbano e a densidade populacional. Quanto maior a estrutura urbana, maiores serão as fontes produtoras de calor e de poluentes. As temperaturas mais elevadas coincidem com as áreas densamente edificadas, impermeabilizadas e populosas da cidade. Também áreas de fundo de vale e de alta declividade não são favoráveis à ocupação devido às condições de umidade e instabilidade do solo. Assentar novos edifícios ou conjuntos habitacionais em áreas deprimidas significa expô-las a perigos de enchentes e dificultar a dissipação de poluentes. A atmosfera nestes locais apresenta baixa capacidade de regeneração, podendo aprisionar os poluentes e gerar graves problemas de contaminação”.