Relacionamento da prefeitura com a Câmara Municipal e do prefeito diante do embate entre Lula e Zema são apenas alguns dos gargalos a ser enfrentados pela gestão herdada por Damião
Álvaro Damião, prefeito de Belo Horizonte.
Rodrigo Clemente | PBH.
Sucessor do prefeito Fuad Noman, que faleceu aos 77 anos na última quarta-feira (26), o vice-prefeito eleito Álvaro Damião (União Brasil) assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte de forma definitiva, com posse já marcada para quinta-feira (3), na Câmara Municipal (CMBH).
Fuad foi internado no dia 3 de janeiro, apenas dois dias após tomar posse, no dia 1º de janeiro. Desde então, Damião já atuava como prefeito, mas interinamente. Agora, com a permanência no cargo de forma definitiva, ele precisará enfrentar desafios políticos e administrativos herdados pelo Executivo.
Anel Rodoviário
Resolver o “problema” do Anel Rodoviário foi um dos compromissos firmados por Fuad antes mesmo da eleição de 2024.
Já reeleito, no dia 27 de outubro, o prefeito havia prometido ir para Brasília conversar com ministros e com o próprio presidente Lula (PT). A viagem aconteceu, mas a solução não veio a tempo hábil.
A ideia de Fuad era transferir a “responsabilidade” do Anel Rodoviário, que hoje é do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), para a PBH.
Antes da morte do prefeito, o vice, que estava como chefe do Executivo de forma interina, chegou a dizer que o acordo para oficializar a gestão da rodovia poderia acontecer “nos próximos dias”.
Embate entre Lula e Zema
Outro desafio de Damião será a conciliação de um diálogo com o governador Romeu Zema (Novo) e com o presidente Lula (PT).
O clima entre os dois, cotados para a disputa de 2026, piorou após a sanção, com vetos, do presidente ao Programa de Pagamento da Dívida dos Estados com a União (Propag).
Desde então, Zema já entrou em argumentações públicas com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), do Transporte, Renan Filho (MDB), de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e até mesmo com o próprio Lula.
Durante uma série de agendas de uma visita do presidente a Minas Gerais, Lula chegou a dizer que poderia olhar “na cara” do governador e dizer que a gestão do PT foi a “que mais investiu” no estado e desafiou Zema a mostrar os números de Jair Bolsonaro (PT).
O político do Novo rebateu afirmando que Lula faz um “recorte do passado” e esquece os “problemas” financeiros causados pelo governo de Dilma Rousseff (PT).
No pleito municipal, o petista tinha candidato próprio no turno, Rogério Correia (PT), enquanto Zema apoiava o nome de Mauro Tramonte (Republicanos). Com os dois de fora do segundo turno, o presidente e o governador se divergiram novamente. Enquanto Lula era simpático à chapa de Fuad, Zema já preferiu apoiar Bruno Engler (PL).
Para Damião, resta a missão de tentar ser um conciliador entre Minas e o governo federal, já que ambos são importantes para o avanço de pautas na capital mineira, como, por exemplo, o próprio Anel Rodoviário e também investimentos na área de habitação.
Relação com a Câmara
A relação com a Câmara Municipal tem sido um desafio para a PBH desde antes da reeleição de Fuad.
O ex-prefeito Alexandre Kalil teve uma relação sinuosa com a então presidente da Casa, Nely Aquino (Podemos). Fuad também teve altos e baixos com o ex-vereador Gabriel Azevedo (MDB) e, no início deste ano, Damião já teve um embate com Juliano Lopes (Podemos).
No final de 2024, a PBH articulou o nome do líder de governo, vereador Bruno Miranda (PDT), como candidato à presidência da Câmara, que anunciou oficialmente sua candidatura no dia 24 de dezembro. A decisão surpreendeu alguns parlamentares, incluindo Lopes, que acreditava que seria o único a pleitear o cargo.
Juliano Lopes venceu com 23 votos, contra 18 de Bruno Miranda.
No velório de Fuad Noman, Lopes, em tom cordial, desejou “sorte” para Damião e disse esperar que ele consiga colocar em prática o plano de governo apresentado pelo prefeito durante a campanha eleitoral.
Novo contrato de ônibus
O contrato vigente das empresas de ônibus de Belo Horizonte vence em 2028, 20 anos após a assinatura, em 2008.
Os termos de um novo acordo para a concessão do transporte público municipal será responsabilidade da gestão Damião.
Na Câmara Municipal de BH (CMBH), uma Comissão Especial, presidida pela vereadora Fernanda Pereira Altoé (Novo), foi criada para estudar a tarifa e sugerir mudanças para o novo contrato.
Obras
Durante a campanha eleitoral, ainda em um cenário não tão otimista para Fuad, um dos ‘slogans’ usados pelos marqueteiros foi que o prefeito era “desconhecido” pelos belo-horizontinos, mas era o autor das obras que vinham acontecendo na cidade.
Ao ganhar destaque na corrida eleitoral, ele foi eleito com a promessa de que o “maquinário” não iria parar e que a cidade continuaria avançando com mais obras, principalmente para a contenção de enchentes, como os reservatórios da avenida Vilarinho, em Venda Nova, e a Praça das Águas, na região Noroeste.
O prefeito chegou a dizer que a PBH ainda teria “muito a fazer” para que situações, especialmente ligadas a questões climáticas, fossem evitadas ao máximo.