A bondade genuína é uma virtude. Virtudes só florescem em terreno adverso.

Padre Samuel Fidelis

Confira a coluna do padre Samuel Fidelis

Imagem cedida à Itatiaia

A gente adora ficar perto de gente boa. Em tempos como os nossos, é da ordem do milagre encontrar pessoas gentis, afáveis, que não estejam “armadas”. Estamos em guerra! E já faz muito tempo. Na primeira família que Deus fez, um irmão matou o outro. E nem foi por causa de herança! A coisa parece que só piora: com redes sociais, ansiolíticos, polarização…

Quando a gente encontra alguém que nos recebe com o olhar, que deixa a gente “ser”, dizer, que é sensível ou empático, desconfiamos de que vão pedir algo da nossa carteira ou se tratar de um “sonho”. Fica a pergunta: é natural ser gente boa?

Não, não é. Na maioria das vezes, a gente envelhece e permanece com os defeitos de criança. Somos autocentrados, egoístas, ciumentos… Qualquer um que seja sincero consigo mesmo irá constatar que não é fácil e espontâneo ser bom. Pelo menos não o tempo todo, com todo mundo!

Por mais religioso que alguém seja, sempre há uma coisa. Até entre os anjos há imperfeições (Jó 4,18). Às vezes somos gentis, mas melhores com os “de fora”. Os nossos, copo de massa de tomate; às visitas, o cristal. Tem gente que é até generosa com comida, mas acha um insulto o carro novo da vizinha. Pode ser que a questão não sejam as posses, mas “aí que desconforto, o jeito que nosso chefe olha para ela?”.

E por aí vai. Somos seres apaixonados, inquietos, vítimas de nós mesmos. Não fazemos o bem que queremos, mas o mal que não queremos (Rm 7,19). Por isso, a “bondade” sempre requer esforço…

Não adianta tentar ser simpático, porque alguém nos pega na curva. Não é uma questão de “gostar de todo mundo”, pois há pessoas insuportáveis. Não tem nem a ver com disposição natural. Uma pessoa alegre na segunda-feira está a um passo da “psicose” (ou seria psicopatia?).

Ser bom requer esforço. A bondade é tanto mais genuína quando é fruto da “virtude”. No esforço por vencer a si mesmo, em nome de algo maior, ou querendo o bem dos outros (mesmo tendo “com quem nos mata lealdade”), há uma das mais belas expressões de amor…

A bondade genuína é uma virtude. Virtudes só florescem em terreno adverso. Elas são como chantilly: quanto mais bate, mais crescem! A bondade é fruto do autoconhecimento e da capacidade de não se escandalizar com as fraquezas, os limites, os defeitos de quem nos atravessa. Quem se desconhece se irrita fácil. A gente costuma não ser “bonzinho” a nos assustar com erros que costumam ser os nossos, refletidos nos outros.

É bom estar próximo de gente boa! Como marcam positivamente a nossa vida. Até um

copo de água dado com amor é um privilégio infinito. Nós nunca nos esquecemos do que o outro nos faz sentir… Que esse seja então nosso compromisso sagrado: procurarmos ser bons. Mais do que fluência em inglês, MBA, conta bancária, isso valerá muito.

Nos momentos em que não dermos conta, consolemo-nos sabendo que ser bom é compromisso e exercício; só Deus é sempre bom. Perto dele, a gente vai aprendendo a ser ‘“bonzinho”; ajuda a ser bom estar cercado de gente boa, pois é junto dos “bão” que a gente fica mió! ‘Guimarães Rosa

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