
A permanente inércia sobre os desastres climáticos no mundo
Se você leitor teve acesso aos jornais nas últimas semanas, provavelmente se deparou com as inúmeras notícias sobre as cheias no Rio Grande do Sul, e não obstante, se foi assíduo ao jornalismo, acompanhou também, nos últimos anos, reportagens sobre grandes incêndios, seca, calor e frio extremos, deslizamentos de terras, dentre outras tantas tragédias relacionadas ao meio-ambiente. Nos deparamos com o quanto esse tipo de notícia se tornou comum, e passamos a ouvir mais sobre chuvas catastróficas, altas temperaturas, ciclones, vendavais. Mas “fica por isso aí”.
As notícias vêm e vão, ocupam as telas por alguns dias e depois são colocadas em segundo plano, sem desfecho, sem resolução, passam a ser somente mais um ocorrido. A comunidade se solidariza, faz campanha, redes de apoios para com os outros são construídas, porém, logo tudo se desfaz e tem de voltar-se a concentrar em sua rotina, não porque não há empatia, é que a vida acontece. Se os cidadãos tem de seguir a vida, quem vai se preocupar com aqueles que, em uma tragédia, perderam tudo? Se procuramos pelo quem, por onde estão os órgãos públicos ou as organizações quando um caos ambiental está, devagarinho, a se instaurar no planeta?
Todos os anos, ocorre em algum lugar do mundo, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo nada mais do que uma reunião com representantes dos governos para discutir sobre o meio ambiente e possíveis desastres climáticos. A última conferência aconteceu em dezembro de 2023 e foi sediada em Dubai, nos Emirados Árabes, no qual se decidiu sobre a transição da era dos combustíveis, pretendendo zerar a emissão de combustíveis fósseis até 2050. Parece um bom plano, afinal, combustíveis fósseis são os maiores responsáveis pelo agravamento do efeito estufa, mas será que a humanidade dispõe de tanto tempo? Ora, no ano atual em que um estado brasileiro se afundou em água e se encontra em ruínas?
O Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) alerta sobre o aumento da temperatura da Terra desde 1988; para termos uma noção do tempo, um ano depois, acontecia a queda do muro de Berlim, ou seja, os governos mundiais sabem sobre o desenfreamento do aquecimento global desde o período da guerra fria. Há mais de quarenta anos, sabe-se que se não houver cooperação e comprometimento entre os países, o mundo entrará em colapso ambiental. A cada conferência climática se projeta-se zerar emissão de gases do efeito estufa, mas somente em 2019, os Estados Unidos, o maior emissor desses gases, emitiu 500 toneladas de CO2, sendo que no mundo todo, quase 53% da emissão ocorreram entre os anos de 1989 e 2019 (BBC News).
Se tantos alertas foram emitidos, se tantos dados foram coletados, porque nada está sendo feito para obter resultados imediatos? As conferências sempre trazem metas para daqui dez, vinte anos, mas o caos já é eminente. O jornal britânico The Guardian junto à Universidade de Exeter, publicou, nesse ano, uma pesquisa sobre o que aconteceria com o mundo se a temperatura média da terra subisse 1,5°C; ondas intensas de calor, pessoas com insegurança alimentar, cidades em baixo d’água, flores e frutos nos polos frios da Terra, oceanos mais ácidos e quentes, cadeias alimentares se rompendo, a comida faltará e será cara, extinção de fauna e de flora; estamos caminhando por uma estrada que tem como destino a ruína da humanidade, e nenhum órgão, que tem capacidade para uma mudança significativa, parece se importar.