Uma celebração que une história, memória afetiva e boa gastronomia nas noites de segunda-feira
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Nova Lima encanta com suas montanhas, casario, história e uma gastronomia rica que reflete a alma mineira. Mas, se tem algo que realmente desperta o entusiasmo dos moradores e visitantes, é a tradição de reunir a família e os amigos para saborear o clássico angu à baiana às segundas-feiras. Esse hábito, que atravessa gerações, já virou um marco na identidade local e uma ótima desculpa para começar a semana com aquele clima de confraternização.
A história por trás do angu à baiana
Apesar do nome, o angu à baiana não tem origem na Bahia, mas sim no Rio de Janeiro, onde começou a ser preparado no século XIX. Esse prato emblemático surgiu em comunidades pobres como uma solução prática e acessível para alimentar a família, especialmente em tempos de escassez. Feito com fubá bem cozido, o angu era servido com um caldo robusto e condimentado, preparado com miúdos e temperos fortes, garantindo sabor e sustância.
Há registros que apontam que o angu à baiana começou a ser servido durante o período em que as comunidades mais carentes ocupavam os morros do Rio, formando as primeiras favelas. Naquela época, o trabalho era escasso, e muitas famílias viviam em condições extremamente precárias. As mulheres, que assumiam grande parte das responsabilidades domésticas, encontraram no preparo e na venda do angu uma forma de complementar a renda familiar. Era época da Guerra do Paraguai e o prato se popularizou entre os soldados negros alforriados, que voltavam às suas comunidades e consumiam o angu como uma opção nutritiva e acessível. As mulheres que vendiam o prato nas
ruas usavam saias brancas rodadas e turbantes, inspiradas na vestimenta das baianas do acarajé, o que acabou influenciando o nome “angu à baiana”. Mais que uma refeição, o angu carregava consigo uma história de resistência e criatividade diante das dificuldades, tornando-se símbolo de identidade cultural em diversas regiões do Brasil.
Essa combinação de simplicidade e sabor logo conquistou outros cantos do país. Em Minas Gerais, especialmente em Nova Lima, o prato ganhou novos temperos e acompanhamentos, adaptando-se ao gosto mineiro com ingredientes como costelinha de porco, suã, carne moída e muito torresmo. E nessa trajetória, o angu à baiana se tornou, ao mesmo tempo, um prato do dia a dia e um símbolo de encontros regados à boa conversa nas noites nova-limenses.
Belo Horizonte também já teve uma tradição de carrinhos de rua que vendiam angu à baiana, como o do Jesuíno, que ficava nas proximidades da rodoviária.
Símbolo de encontros e cultura na cidade.
Há quem afirme que a tradição do angu à baiana às segundas-feiras surgiu como uma solução perfeita para aproveitar as sobras do fim de semana e acabou virando um ritual cheio de memória afetiva. E no clima mais frio de Nova Lima, a relação com este prato foi ficando tão forte que a segunda-feira parece ter sido feita sob medida para este costume. Nos bares e restaurantes da cidade, ele reina absoluto como a estrela do cardápio. Seja na happy hour ou no jantar, o angu à baiana é uma pedida certeira para espantar o frio e aquecer o coração.
Assim, o ritual de comer angu à baiana vai além da gastronomia. Ele carrega uma memória afetiva e uma sensação de pertencimento que une gerações. É comum ver mesas lotadas de amigos e famílias, compartilhando não só a comida, mas também histórias e risadas. Quem visita Nova Lima às segundas não pode perder essa experiência única.
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