Categoria vê chuva, inexperiência de novos motociclistas e falta de regulamentação como principais causas do aumento
O número de motociclistas acidentados durante na semana entre o Natal e o Ano Novo aumentou 8,9% em relação a 2022. De acordo com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), 221 motociclistas foram atendidos entre os dias 24 e 31 de dezembro de 2023, contra 203 no ano anterior. Apenas na última semana, entre os dias 27 de dezembro e 3 de janeiro, 95 pessoas foram hospitalizadas no Hospital João XXIII após acidentes de moto.
De acordo com o motociclista e especialista em trânsito, Osias Baptista, uma das razões para o aumento dos acidentes é o período chuvoso. “Na época de chuva, os acidentes aumentam porque a pessoa não consegue frear a moto. Muitas motos menores também não têm o freio ABS, então derrapa mesmo. Em Belo Horizonte, [o número de acidentes] está crescendo por causa dos mototáxis e transportes de aplicativo, já que muita gente despreparada, que não tem experiência pilotando, começa a trabalhar com moto. Então, elas não sabem frear na chuva, não foram treinadas para isso”, explica.
Baptista elenca três problemas causados pela chuva e que exigem atenção dos motociclistas:
“Quando a chuva cai pela primeira vez, a poeira que está no asfalto vira lama. Então, a pista fica extremamente escorregadia e o motociclista tem mais dificuldade para frear. Depois de algum tempo chovendo, o asfalto volta a ganhar aderência. Mas aí, a visibilidade cai. Se o motociclista fechar a viseira, ela embaça e perde a visibilidade. Se ele fica com a viseira aberta, a água cai no olho. Uma outra questão são as poças d’água. O motociclista não sabe o que é buraco ou não. Por isso, ele pode acabar caindo da moto. O grande problema é que muitas vezes está vindo um carro atrás e, nesses casos, o motociclista costuma ser atropelado”, esclarece o especialista.
Para reduzir o risco, Baptista orienta os motociclistas: “Na chuva o motociclista deve andar bem devagar e não inclinar a moto nas curvas, porque ela perde a aderência. Assim como o motociclista tem dificuldade de enxergar na chuva, o outros motoristas também têm. Por isso, o motociclista tem que ter cuidado com os movimentos de zigue-zague, de costurar o trânsito, que apesar de serem proibidos, são práticas muito comum”.
Risco x dinheiro
Para o motoboy Robert Gonçalves, o aumento do número de acidentes também tem relação com a inexperiência dos motociclistas, principalmente os que trabalham com aplicativos de transporte.
“O número de acidentes aumentou porque o número de motos aumentou. Muita gente que tirou carteira recentemente e não tem experiência nenhuma passou a trabalhar com aplicativo. Não existe regulação. Na moto a gente tem que ter uma atenção redobrada. Na chuva, ela tem que ser ainda maior. A pessoa tem que usar equipamentos de segurança como luvas, colete com faixa refletora. Mas muita gente não usa. Os apps não exigem curso de mototáxi, nem equipamentos de segurança”, afirma.
Além da inexperiência dos novos motociclistas, o motoboy chama atenção para o dilema entre pilotar devagar debaixo de chuva e correr para conseguir fazer o máximo de corridas, ou entregas, possíveis no dia. “Como esses aplicativos sabem que têm o mercado na mão, eles colocam os preços muito baixos. Para o entregador conseguir atingir a meta diária, ele tem que trabalhar muito mais. Só que nos meses de janeiro e fevereiro a demanda cai muito. Não tem demanda pra todo mundo. Para o motoboy colocar a moto na rua, ele já gasta pelo menos R$ 50, contando os gastos com gasolina e comida”, conta.
A necessidade de colocar as contas em dia, faz com que muitos motociclistas continuem rodando de forma imprudente. De acordo com Gonçalves, os aplicativos costumam pagar menos de R$ 1 por quilômetro rodado. “Para a pessoa fazer 300 reais, por exemplo, ela precisa rodar 300 quilômetros. É muito desgastante. Estamos sendo explorados, estamos sangrando. Está morrendo gente demais”, desabafa.
O motoboy ainda afirma qual seria a tarifa ideal. “Deveria ser R$ 2 por quilômetro rodado, além de ter uma taxa mínima de entrega a partir de R$ 10 reais. O transporte por aplicativo precisa ser regulamentado com urgência. Até regulamentar vamos ficar assim. O mais agravante é que 90% dos motociclistas não pagam INSS e não têm direito ao seguro em caso de acidente. A gente costuma ajudar quando acontece, faz vaquinha. Não dá pra deixar o pessoal na mão”, diz.